domingo, 13 de abril de 2014

Quem mexeu na minha anfetamina???

Eu estava maluca com a ideia de que podia tomar remédios lícitos, me sentir tão bem-disposta e ainda emagrecer... Que doideira! Quando eu tomava os remédios, eu sentia tanto ânimo, que nas primeiras horas eu tinha vontade de construir um prédio. Depois de algum tempo eu tinha vontade de me enterrar embaixo dele! Começavam as tais sequelas...

Eu não fazia a menor ideia que estava tomando drogas e o que elas poderiam fazer com a minha vida. Nessa época, recém-operada da plástica dos seios, estava com 21 anos. Já trabalhava como professora e me sentia renovada. Estava numa fase muito legal. Magra, notada, paquerada, namorava um vocalista de uma banda que era 18 anos mais velho que eu, vivia nas baladas. Tomava os remédios e bebia. Dava um barato tremendo! Eu era jovem, livre, feliz e burra, muito burra.

Mas a crise estava feia e eu não podia mais pagar pelos remédios. Então tive de parar com eles. Comecei a engordar novamente, me sentia triste, algo me faltava. Eu sabia que eram os remédios, só não queria admitir. A tristeza era a depressão, que vinha forte. Os tempos estavam bicudos, eu já estudava na PUC, meu pai tinha perdido um bom emprego, vinha mãe voltara a trabalhar com uma amiga e vizinha que tinha uma loja. Eu trabalhava muito, mas tinha dificuldades de me concentrar, tanto no trabalho quanto na Faculdade. Queria minhas anfetaminas, queria emagrecer!!!

Tive uma crise de stress. Lógico, eu levantava diariamente às 5h e só chegava em casa à meia-noite... comia mal, comia errado e não tinha as anfetaminas pra me apoiar! Fiquei tão deprimida que chorava, chorava, chorava sem saber o porquê! Então achei que tinha que me matar. Não tive coragem. Graças a Deus! 

Estava na hora de procurar um médico. Fui em um médico amigo da família. Ele constatou que eu estava em plena crise de stress. Disse que eu tinha que largar algo que estivesse fazendo. Com a crise que minha família vivia, a única coisa que podia largar era a faculdade. Tranquei matrícula por 1 ano e meio. O médico me fez uma fórmula. Fiquei exultante. Mandei fazer e comecei a tomar imediatamente!

Bem, dessa vez foi realmente desastroso. Os remédios me fizeram tanto mal, que eu mal me lembro dessa fase da minha vida. Sério, é como uma nuvem ficasse por cima de minhas lembranças. Nem fotos dessa época eu tenho! Eu fiquei tão alterada que meu irmão jogou todos os meus remédios no vaso sanitário. Eu só lembro que eu disse pra ele que os remédios tinham custado muito caro. Ele jogou o dinheiro em cima de mim e jogou tudo fora. Na época eu fiquei uma fera! Ele jogou 200 comprimidos de anfetamina caríssimos na privada! E nem fez descarte consciente e ecológico! Foi a melhor coisa que ele poderia ter feito por mim.

Começava a verdadeira fase negra da minha vida. Eu estava com uns 23 pra 24 anos. Estava deprimida, nada me fazia sentir bem. Fui convidada pra uma festa. Eu não queria ir, mas a Lilian, a Bel, o Kim e o German insistiram. Ia ser na casa do chefe do German. Ah!! German e Lilian são amigos que fiz na época em que frequentei a comunidade de jovens da Igreja Bom Conselho. Tenho que lembrar de fazer um post só sobre este assunto: A Jupara. Bel e Kim eram amigos que fiz quando eles moravam na mesma quadra de prédios que eu morava. O Kim tocava violão e a Bel cantava lindamente. Eles se separaram, a Bel casou novamente e o Kim faleceu. Hoje  Bel mora no interior com seus 3 filhos.

Bem, eu fui à festa. Parecia a Rê Bordosa. (Pra quem não lembra, a Rê era uma personagem do Angeli: uma mulher de aproximadamente 40 anos, alcoólatra, ninfomaníaca, desbocada e desprovida de bom senso, cujas histórias giram em torno de suas manias e desejos. 
Bebia tudo o que via pela frente). 


Aliás, na festa só tinha mulher e bebida! Parecia um Bordel. Eu jurei que nunca mais entraria naquela casa. A tal casa, era do chefe do German. Um sujeito gordinho e muito antipático que se chamava Álvaro. Ele morava com um italiano lindíssimo que se chamava Luiz. Eu não estava nem um pouco interessada naquela gente. Festa estranha com gente esquisita! Mas, como estava com meus amigos, fiquei até o final da festa. Lembro que bebi tanto que fui vomitar no banheiro. Uma vergonha. Mas estavam todos bêbados lá, acho que ninguém percebeu. Isso aconteceu em maio de 1989, eu estava com 24 anos.

Bom, eu fui levando. Tinha dias que eu estava bem, tinha dias que eu estava muito triste.

Em agosto do mesmo ano, o chefe do German resolveu fazer uma festa das Bruxas. Eles me convidaram novamente. Eu recusei, disse que nunca mais entraria naquela casa, briguei, briguei, acabei indo.

Coloquei um vestido preto, com decote nas costas (eu ainda era magra nessa época, mesmo sem os remédios que eu tanto queria). Coloquei um chifre de diabinha e fui. Naquela época eu andava estudando leitura de mãos. Resolvi brincar de ler as mãos das pessoas. Fiz muitas inimizades naquela festa. O tal do Álvaro, o dono da casa, tinha uma amiga que era funcionária dele, chamada Elaine. Ela era a melhor amiga dele. Ela me odiou. 

O Álvaro, bêbado, no fim da festa, pediu pra eu ler a mão dele e caçoou de mim. Foi irônico e disse: "Lê minha mão aí, cigana". Eu fiquei muito brava. Tão brava que li a mão dele. Eu não o conhecia bem, mas sei acertei tudo. Tudinho. Por um instante cheguei a me ver no futuro daquele homem que eu mal conhecia e já detestava, mas logo tirei isso da cabeça. Disse pra mim mesma: "Você está influenciada"...

Na semana seguinte estávamos namorando. Uma janela abria-se na minha vida. Fui recuperando minha vontade de viver, fui recuperando a alegria... fiz muitos amigos. Gente normal, gente doida, tinha de tudo um pouco. Eu estava viva. Graças a Deus! E sem anfetaminas!

Eu já estava começando a engordar novamente. Acho que estava com uns 75 quilos. Não me importava, pois estava viva, feliz e muito, mas muito apaixonada!

É isso... 

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