sábado, 3 de maio de 2014

Eu por mim mesma – Parte V: Faculdades, minha segunda cicatriz e um Reencontro!

Entrei na faculdade com 17 anos, em 1983. Faculdade Ibero Americana, no curso de Tradutor-Intérprete. Lá estudei 2 anos e descobri minha paixão por Língua Portuguesa depois de ter aulas de latim com uma freira ferradíssima!

Minha sala na Ibero era enorme. Éramos 110 alunos e o professor tinha que dar aulas com microfone. A faculdade funcionava dos dois lados da Av. Brigadeiro Luís Antônio, 817. Hoje virou Faculdade Anhanguera.

Quando ingressei no curso de tradutor-intérprete nunca imaginei que deveria já saber inglês. Eu tinha apenas 17 anos e vinha de uma existência em que não havia essa coisa de curso extracurricular. Estudei a vida toda no estado, com alunos de classe baixa (a antiga classe C) e tudo era feito com muito sacrifício.

Meu irmão já tinha acabado a faculdade e foram 4 anos difíceis para os meus pais. Ele estudara na Escola Superior de Propaganda e Marketing e era muito cara. 

A Ibero também era uma faculdade cara e exigia ainda mais: eles exigiam que nós fizéssemos um bom curso de inglês paralelamente. Não, não poderia ser Fisk, CCAA, entre outros. Tinha que ser Alumni ou Cel Lep. Nada menos que isto... Não tinha grana pra tanto e acabei sendo deixada de lado. Meu inglês de ensino médio não foi o suficiente pra eu acompanhar a faculdade... 

Pertencia à Ibero a Álamo, que era responsável pelas legendas e dublagens de filmes. Lembram daquela voz no início dos filmes: “versão brasileira, Álamo, São Paulo”? Então, eram os alunos da Ibero que ajudavam nessa empreitada de fazer legendas para filmes. Por conta disso eu assisti Flash Dance umas 25 vezes...

O primeiro ano foi dificílimo e eu tomei pau em todas as matérias de inglês. Fui para o segundo ano carregando 3 DPs e foi quando descobri que inglês não era mesmo minha praia. Eu sofria muito, apesar de já ter aprendido muito e falar quase que fluentemente. 

Já estava conseguindo pensar em inglês, mas isto não era o bastante para encarar a Ibero e um professor carrasco de Cultura e Civilização Inglesa. Desisti.

Apesar de ter sido uma experiência quase que desastrosa, na Ibero conheci pessoas bacanas como a Iaraly Martinez com quem tenho contato até hoje. 

A Iara é aquela amiga que fica pra sempre em nossos corações. Tempo vai, tempo volta e estamos lá, ainda que distantes fisicamente, próximas de coração. Tenho uma foto com ela na minha formatura da PUC. Em breve colocarei aqui.

No meu grupo também estavam o Douglas Bom (o pai dele foi prefeito de São Bernardo), a Gislene Perez (na foto acima, a do meio) que faleceu alguns anos mais tarde, a Carla Maria Westphall (na foto acima, 1ª da esquerda) que andei procurando, mas não encontrei. Tinha a Alétea, a Cláudia (na foto acima, 1ª da direita), a Claudete (a 4ª da esquerda pra direita) e outras meninas que já não lembro os nomes... O tempo é implacável com nossas memórias. Jovens! Escrevam e guardem suas memórias em lugar seguro. A gente esquece tudo com o tempo. Infelizmente...

Em casa era um drama que se instalava: minha mãe achava que se eu parasse de estudar, jamais voltaria. Tranquei a Ibero e passei o ano de 1984 só trabalhando. 
Eu trabalhava em um consultório dentário com o Sérgio Luiz Di Sessa (foto acima) e o Gino Walbe Ornstein, com o qual tenho contato apenas por facebook. Eles acabaram se tornando mais do que patrões, viraram meus amigos e amigos dos meus familiares. Hoje mantenho contato com o Sérgio, que depois de casar veio morar em Santos. Ele é meu dentista e um irmão... Na foto acima, eu com o Sérgio na minha formatura em Logística aqui na Fatec de Santos.

Quando fui trabalhar, meu pai não queria. Dizia que filha dele não precisava trabalhar. Teimei e fui. No começo eu trabalhava apenas no período da tarde, pois pela manhã eu ia pra faculdade. Quando tranquei a Ibero passei a trabalhar período integral.

Então, em 1985 eu entrei na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP. Eu estava com 19 pra 20 anos e fui pra PUC porque era ainda a única faculdade que mantinha um curso de graduação específico de Língua Portuguesa.

Minha paixão era mesmo Língua Portuguesa e lá tive oportunidade de me especializar na área e ter aula só com os melhores!

A PUC tinha um sistema que era o Básico, em que todos os cursos se misturavam e tinham aulas juntos. O primeiro ano era composto pelo básico e apenas 2 disciplinas de específicas.

Na PUC eu fiz grandes amigas que levei pra sempre. Logo em 1985 eu conheci a Odelice que fazia Língua Inglesa e que era da turma do Básico comigo. A Odelice foi com quem mantive maior contato. Fui madrinha de casamento dela junto com nosso amigo Mário Líseas, que também era da nossa turma de básico. No básico eu, a Odelice e o Mário éramos inseparáveis... Saudade daqueles dois. O Mário manteve contato por um tempo, esteve quando minha mãe faleceu em 2002 e isso foi de suma importância para mim. A Odelice tem seus 2 filhos adultos e a vida nos leva mesmo por caminhos opostos...


Éramos jovens e cheias de vida... as 3 Marias... hahahaha
Bettina Bopp
Sumaya Abud
Gisele Esteves
Nas específicas eu conheci meus outros amigos que ficariam comigo até o final (se eu chegasse ao final com eles). A Sumaya, a Bettina, a Sílvia, o Otávio, a Eliana. Destes eu reatei contato com a Sílvia e a Sumaya, posteriormente com a Bettina. Isso foi em 1985 mesmo quase 30 anos depois, parece que nem um dia se passou!

Ainda quando cursávamos a Bettina casou e depois a Sumaya. Ou vice-versa, não lembro ao certo...

Nesta semana (de 28 a 30/04/2014) houve um Congresso de Língua Portuguesa na PUC e eu reencontrei a Sumaya. No último dia do congresso marcamos um café no shopping Pátio Higienópolis com a Bettina. Voltamos no tempo e rimos como se não houvesse passado nem um dia sequer. Não as via desde antes de a Sumaya ter sua filha mais nova que hoje está com 16 anos. A última vez que estivemos as 3 juntas (eu, Su e Bê) foi por volta de 1996.

O reencontro foi algo mágico pra nós três. Todas passamos por problemas e dificuldades sem precedentes, mas lá estávamos com quase 30 anos a menos rindo, brincando e lembrando das coisas do passado. Revisitar o passado é bom. Rever amigas tão queridas é melhor ainda. "O presente é tão grande, não nos afastemos, não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas"...


Na foto acima, a professora de Semântica Maria Inês Salgado, Nancy, eu e Sumaya.











O Congresso me levou de volta aos meus vinte e poucos anos... revi a Nancy, com quem estudei depois que a Sumaya e a Bettina já tinham ido embora da PUC e a Neusinha, que foi minha professora de Prática de ensino. Como disse, não fiz a faculdade no tempo regulamentar e acabei trancando por um ano e meio. Quando voltei a turma era outra e acabei conhecendo novas pessoas, como a Nancy Casagrande, a Marisa Tanesi, o Luiz (com o qual perdi contato) e a Patrícia de Castro, com quem ainda tenho contato. Hoje ela é doutora e trabalha na UEL, em Londrina. A Pat adotou um casal de irmãos e segue feliz por lá. Não a tenho visto, mas a saudade também é muito grande. Patrícia foi minha madrinha de casamento em 1992. 

Revi os corredores da PUC, as rampas intermináveis, o elevador que nunca chega, o pátio da cruz... uma viagem...

Voltando a 1986, eu estava no segundo ano da PUC e ingressei em uma escola para dar aulas no supletivo. O Colégio Anhembi foi meu primeiro emprego como professora de português e meus alunos eram mais velhos que eu... Foi quando aprendi português de verdade.

Aos 21 anos eu tinha seios enormes e estava com 63 quilos. Tinha dores horríveis nas costas e um afundamento nos ombros por causa da alça do sutiã. Passei por um cirurgião plástico do INSS e operei os seios. Surgia a minha segunda cicatriz... Era uma cicatriz do bem, pois eu finalmente teria seios normais para a minha idade...

Foram anos em que eu fiquei muito magra, mas logo começaria meu vai-e-vem de engorda e emagrece...


Minha vida universitária foi muito difícil, pois meu pai ficou desempregado e eu tive que me virar pra pagar uma faculdade que já era cara na época! Vendia bolo, sanduíche natural, Natura, roupas... trabalhei no xerox da faculdade, fiz estágio no Instituto de Pesquisas Linguísticas com a Sumaya e a Arlete em troca de mensalidade, enfim, me virava em mil e trabalhava simultaneamente. Trabalhava muito! Na foto acima, com minha turma de Magistério no colégio Anhembi em 1987.


Nesta semana de congresso também tive a oportunidade de rever a Arlete que já trabalha na PUC há quase 30 anos!

Olha nós 3 juntas novamente! Arlete, Sumaya e eu.


A PUC era uma faculdade um pouco diferente no que diz respeito à duração do curso. O tempo mínimo pra cursar é de 4 anos e o máximo 8 anos, porque você faz a faculdade por créditos, ou seja, você não paga um preço fechado e tem "x" matérias por semestre. Você se inscreve nas matérias que quer (existe uma ordem estipulada pela faculdade) e paga por disciplina. Eu me matriculava no número mínimo que era pra pagar menos de mensalidade. Sendo assim, fiz minha faculdade em 7 anos, dos quais 1 ano e meio fiquei com a matrícula trancada. Sete suados anos! Na foto, na minha formatura com a Patrícia de Castro e minha querida professora Neusinha!

Finalmente terminei a faculdade em dezembro de 1991.

Ainda viria uma longa novela até eu conseguir pegar meu diploma.

Para as minhas amigas Bettina e Sumaya:

Mãos dadas



Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos, mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.


Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.

O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.



sexta-feira, 25 de abril de 2014

Eu por mim mesma – Parte IV: Mudança!

No final de 1979, quando eu estava terminando a 8ª série, meus pais compraram um apartamento na Mooca. Eu morava na Vila Ema, lembram?

Era uma apartamento novinho, com 3 dormitórios e finalmente eu teria meu próprio quarto. Eu tinha 14 pra 15 anos e nosso apartamento só seria entregue em janeiro de 1980. Mas como essas coisas sempre atrasam, já sabíamos que demoraria um pouco mais. Sem contar que o apartamento era pelado e teríamos que colocar carpete e fazer os armários embutidos.

Os armários embutidos foram feitos pelo tio da minha mãe, o irmão da minha avó materna, tio José. Esta foto é da parede dentro do armário. Ela foi tirada no dia 17/08/2012. Dia em que fui me despedir do apartamento, quando vendemos. Isso foi escrito no dia 19/08/1980, dia em que o armário foi colocado, e permaneceu lá até a venda do apartamento no final de 2012. Exatos 32 anos...

A cozinha também era bem pequena e precisaria de um projeto audacioso, que foi feito pelo nosso grande amigo Dailton, pai da Ione e da Elaine. Infelizmente o Dailton já se foi...

Como nós mudaríamos de bairro, eu já me matriculei direto no 1º colegial no MMDC. A minha casa era muito longe e fora de mão, apesar de serem bairros vizinhos. Eu teria que sair muito cedo, pegar 2 ônibus pra chegar na escola. Eu tinha apenas 14 anos...

Meu tio Alcides Gabarron, casado com minha tia Leonor (na foto à esquerda), ficou com pena e ofereceu que eu morasse com eles até o nosso apartamento ficar pronto. Fiquei morando com eles uns 3 ou 4 meses. Eles moravam bem pertinho da escola. Meu sonho se realizara e eu ia estudar na mesma escola que a Rita!!! Ela passava na casa da tia todos os dias e íamos juntas pra escola. 

Como felicidade dura pouco, meus tios mudaram pra Brodósqui: a terra de Portinari - e lá se foi minha companheira de escola e minha grande amiga que só voltaria anos mais tarde... A felicidade durou um semestre.

O “M” como era chamado, era uma das melhores escolas da Mooca. Houve um tempo que era preciso fazer Vestibulinho pra entrar. Realmente uma escola muito forte e como já não existem mais.

Lá fiz amizades que levo até hoje, como a Duda (Ilda Augusto Soares), a Luciana Tamallo, a Patrícia Lavecchia, o Ricardo Botelho, a Aninha (Ana Maria Saenz – que hoje mora em Cardoso), a Gracinha (que era da sala da Rita), o Maguila (Wagner Ebner) e mais um monte de outros amigos que infelizmente perdi o contato, mas que gostaria muito de encontrar, como o Marcelo (acho que era da Silva) e o Marcos Robles.

No “M” recebi o apelido de Fafá, por causa dos meus seios fartos... Esse apelido me seguiu durante os 3 anos do colegial. Os meninos gritavam FAFÁ pelos corredores e, ao contrário do que seria hoje, eu não chorava e nem me sentia intimidada. Apenas ria do apelido e até assinava como Fá... Hoje seria motivo para terapia e traumas por motivo de Bullying. Naquela época nem se falava nisso e eu mesma participava do bullying contra mim. Foi perdendo a graça e eles foram perdendo a vontade de gritar pelos corredores...

Naquela época eu já começava a engordar e ficar encanada com dietas e ginásticas. Foi quando comecei a frequentar a Silhouette com a minha amiga Ruth, que morava no mesmo prédio que eu e que era mãe das 3 meninas pra quem eu dava aulas particulares. Ah! Não falei? Aos 15 anos, ainda em 1980, comecei a dar aulas particulares para a Karla, Fabiana e Priscila (na ordem da foto). Essas 3 lindas na foto abaixo. Nunca mais parei de dar aula! 

Eu ia à Silhouette com a Ruth pra fazer ginástica, jazz e massagens com aparelhos redutores. Era um suadouro, mas quando saíamos de lá parávamos na lanchonete e comíamos um belo e farto hambúrguer com suco de laranja... que falta de juízo!

O primeiro colegial foi difícil e tirei a primeira nota vermelha de toda a minha vida... Física e química! Aff, como era difícil!

Tenho histórias incríveis do "M" e ainda volto a falar dessa época tão apaixonante da minha vida.

Nunca repeti nenhum ano e cheguei ao 3º colegial, ainda na escola do Estado, aos 17 anos, em 1982.

*Bullying é um termo da língua inglesa (bully = “valentão”) que se refere a todas as formas de atitudes agressivas, verbais ou físicas, intencionais e repetitivas, que ocorrem sem motivação evidente e são exercidas por um ou mais indivíduos, causando dor e angústia, com o objetivo de intimidar ou agredir outra pessoa sem ter a possibilidade ou capacidade de se defender, sendo realizadas dentro de uma relação desigual de forças ou poder.

Eu por mim mesma – Parte III: Cicatrizes

Foi aos 12 anos que produzi minha primeira cicatriz... 

Foi em 19 de janeiro de 1978 que eu caí e quebrei o braço, quer dizer, desloquei a cabeça do rádio (cotovelo direito). Eu estava passando férias em Rifaina (MG), no sítio de um tio do meu pai (Tio Pedro, irmão da vó Alícia). Lá tinha uma represa que ficava a poucos metros, em frente à casa. Eu tinha 12 anos e era fanática por água. Mal chegamos, descarregamos o carro e eu fui colocar meu biquíni. Saí correndo desembestada, tropecei na raiz de uma árvore e caí toda torta, em cima do meu braço. Senti muita dor na hora! Chorei, fiz um escândalo, veio todo mundo correndo ver o que tinha acontecido. Meu irmão pegou meu braço e chacoalhou com força e eu gritei! Ele disse que era manha! kkkkk 

Caí em uma terça-feira. Depois disso ainda fomos passear em Poços de Caldas, passamos em Mogi Mirim e só no dia 25/01 é que voltamos. Minha mãe estava tão preocupada que nem quis ir pra casa, fomos direto ao Pronto-socorro. Como era feriado, me engessaram e mandaram eu ir ao Hospital Carlos Chagas, em Guarulhos, no dia seguinte pra tirar uma radiografia. Meu irmão riu de mim e disse novamente que era manha e que eu voltaria no dia seguinte pra colocar um gesso maior ainda! 

Fomos no dia seguinte e não me deixaram voltar pra casa. O médico que me atendeu disse que eu tinha que ser internada urgentemente pra uma cirurgia. Era um médico nipônico muito do grosso. Ele disse que como eu estava em idade de crescimento, meu braço direito iria parar de crescer e atrofiar! Eu e minha mãe saímos chorando da sala dele! Delicado...

Quando meus pais chegaram em casa e disseram pro meu irmão que eu ficara no hospital, segundo me contaram, ele ficou desesperado. Chorava, gritava e perguntava por que não tinha sido com ele. Era remorso... bem feito! Quem manda falar sem pensar? 

Mas ele mandou uma cartinha fofa dizendo o quanto se arrependia por ter dito aquelas coisas.

Meus pais tinham medo que o médico que ia me operar fosse o oriental, mas felizmente não era! Quando meu pai sofreu aquele acidente na Bardella, ele foi operado nesse mesmo hospital por um médico excelente chamado Vilney Mattioli Leite. No dia da minha cirurgia ele encontrou esse médico que informou ao meu pai que quem estava me operando era o irmão dele: Nelson Mattioli Leite (foto à esquerda). O médico era realmente um gênio. Fiquei 6 horas no Centro Cirúrgico. Ele colocou um pino de platina no meu cotovelo em forma de L, pra segurar o osso no lugar. Fiquei mais de um mês engessada. 

Criança de tudo, fazia crochê mesmo com gesso e usava uma agulha de tricô pra coçar o braço, dentro do gesso. Sem juízo total. Quando tiramos o gesso tive que fazer uma pequena cirurgia pra tirar o pino de platina. Fiz fisioterapia por 6 meses! Cada sessão de fisio o médico mandava tirar 3 radiografias. No final ele mandou fotografar tudo porque usaria aquele material pra lecionar. Ele disse que meu caso era 1 em mil que ficava bom!

UFA! Dessa eu escapei!

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Eu por mim mesma – Parte II: Com o pé no Ginásio

A rua em que eu morava era travessa da Avenida Solidônio Leite. Essa avenida é paralela à Estrada de Vila Ema, hoje conhecida por Avenida Vila Ema. Eu morava na direção da Fábrica de Brinquedos Bandeirante. Naquele tempo, 1970, as ruas nem tinham nome ainda. A minha rua, por exemplo, chamava-se "Rua B". Atualmente chama Rua Valdomiro Pedroso. Na foto ao lado, esse quadradinho vermelho com uma casinha amarela é onde eu morava, o quadro azul com uma setinha verde é onde ficava a escola que meu irmão fez o ginásio (Stefan Zweig) e que, mais tarde, eu também fiz. O quadrado verde indica onde ficava a fábrica de Brinquedos Bandeirante. 


Nas fotos à esquerda, onde era a Fábrica de brinquedos Bandeirante na foto 1 e o ponto onde tomava o ônibus pra ir pra casa a partir da 6ª série na foto 2. A ladeira da foto 2 era a rua onde fica o Stefan, lá no topo.
Quando eu entrei na 1ª série, em 1972, meu irmão estava ingressando no "antigo" ginásio, hoje incluso no ensino fundamental. O estado tinha construído uma escola novinha que ficava bem em frente à minha rua. A matrícula do meu irmão foi a nº 001 da escola.


Em 1976, com 10 anos eu estava indo pra essa mesma escola. Eu, que nunca gostei de andar, achei o máximo estudar na esquina de casa! Eu seguia feliz da vida por estudar tão pertinho de casa. Da quadra onde fazíamos educação física dava pra ver a minha casa.

Nas fotos à direita, a rua em que eu morava (não consegui identificar qual era a casa, pois a rua mudou muito). Lá no fim da rua, aquele paredão azul era o Stefan. A segunda foto, da direita acima, é da esquina da rua em que eu morava. Lá ficava a quadra descoberta.

A escola era maravilhosa, uma escola do estado como poucas. Quando comecei lá, na 5ª série, a escola tinha apenas 4 pra 5 anos. Tudo era novo. Essas fotos são atuais. A escola decaiu muito e essa pintura azul é horrorosa!

 O Stefan é "gigante" (quase 10 mil metros quadrados)! Como a escola fica em uma ladeira, tem portões pra todos os 3 andares que ficam abaixo do térreo.

Vou tentar descrever essa escola onde fui tão feliz e fiz tantos amigos legais.

Partindo do térreo: No térreo ficava a secretaria; a biblioteca; um estacionamento pequeno para professores; um pequeno espaço onde ficava uma mesa de ping-pong; 2 salas que deveriam ser laboratórios, mas eram salas de aula; uma arquibancada que desembocava na quadra descoberta; uma escadaria bem larga que levava aos andares superiores; e duas pequenas escadas, uma de cada lado da escadaria larga, que levava ao 1º subsolo.

No 1º subsolo havia uma cantina grande, um espaço que funcionava como uma pequena quadra e 3 escadarias: uma perto da cantina que levava direto ao 3º subsolo, outra, do lado oposto que levava também ao 3º subsolo e desembocava na porta dos banheiros que eram eternamente assombrados pela "loira do banheiro"; e uma outra, que ficava entre as 2 primeiras, que levava ao 2º subsolo.

No 2º subsolo havia um estacionamento maior para os professores, um depósito pra guardar o material de ginástica olímpica, um depósito para os instrumentos da fanfarra e 3 salas de aula onde ficavam as oitavas séries.

No 3º subsolo ficava a quadra coberta, uma arquibancada, os banheiros femininos e masculinos e um grande espaço onde não tinha nada.

Acima do térreo havia 2 andares com tantas salas que nem sei... No 1º andar ficava a sala dos professores e mais um monte de salas. No 2º andar somente salas.

Eram tantas salas que no ano que me formei, éramos em 13 salas só de 8ª série!


Eu consegui na internet uma foto da escola (acima) por dentro, no meu tempo não havia todas essas grades, mas acho que com o passar dos anos e o aumento da violência elas se fizeram necessárias... Pelo que posso lembrar, esse é o térreo.

Morro de vontade de voltar lá e fotografar tudo como está hoje...

Tantos alunos precisavam de muitos professores. E eram! Os professores eram altamente qualificados e guardei na lembrança os nomes de alguns: Píer (matemática), Suely (desenho), Regina (inglês), Anaide (estudos sociais), Catarina (geografia), Oswaldo (matemática), Sonely (ciências), Reginaldo (ciências), Hanna Eidy (francês) e tantos outros que não sou capaz de lembrar. Pena eu não ter nenhuma foto da escola na época.

A foto à direita foi tirada na 8ª série. Eu, Jurema, Telma, Píer (professor de matemática e amigo até hoje), Angélica e Regina.

O Píer e a Sueli são casados até hoje e eu ainda mantenho contato com eles. O Píer tinha uma empresa organizadora de formaturas e um cursinho. Foi ele que organizou a minha festa de formatura. Tudo o que eu sei de matemática e que foi muito útil na minha faculdade de logística, aprendi com o Píer. Ele foi, sem sombra de dúvidas, o melhor professor de matemática que tive durante todos os meus anos de escola!

Na matéria da Sueli, quando os trabalhos eram artísticos, confesso que era meu irmão que fazia tudo pra mim. Ela era uma excelente professora, mas eu não tinha o menor talento. Nunca tive e até hoje nem casinha eu sei desenhar. O que me marcou muito com a Sueli foram as aulas de desenho geométrico. A noção que tenho hoje com réguas e esquadros, devo a ela.

Anos mais tarde, 1986, eu lecionei no Cursinho PHD, saí e voltei. Fiquei com ele até 2003, quando vim pra Santos. Atualmente mantenho contato com minha amiga e professora Sueli Tuzi pelo Face. Acho que tenho uma foto da Sueli me dando o diploma. Preciso procurar.

Só que alegria de pobre dura pouco e o proprietário pediu a casa, pois sua filha ia casar. Começava a maratona na busca de uma nova casa. Eu tinha uns 12 anos e estava na 6ª série, por volta de 1977. 

Foi quando mudamos pra um sobrado que ficava na Rua Irmã Amélia, uma rua sem saída, um lugar muito gostoso. Essa rua era também uma travessa da Estrada da Vila Ema, só que bem mais longe. Ficava perto da antiga Padaria Amália (muito famosa nessa época). 

Procurei no Google e encontrei a casa. Continua exatamente a mesma. Impressionante!




Na foto abaixo, se der pra ver, na ponta do triângulo, a casa que eu morava na R. Irmã Amélia. Na base do triângulo a escola que eu estudava (em azul) e a casa que eu morava antes desta. Às vezes eu ia a pé (na maioria das vezes) e levava uns 40 minutos pra chegar. Odiava ir a pé! Mas às vezes voltava de ônibus, isso quando não perdia o dinheiro da passagem ou quando não tomava sorvete.


Meu irmão foi fazer o colegial (ensino médio) no Colégio Mário Marques de Oliveira. Um pouco longe, mas nem tanto. Lá ele fez muitas amizades que mantiveram contato por um bom tempo. Dessa época ficaram duas grandes amigas: Ione e Natália. Mais tarde, com certeza, volto a falar delas.

Fiz o ginásio todo no Stefan. Foram anos maravilhosos! Guardo desta época duas grandes amigas com quem ainda tenho contato: Therezinha Antonucci (que está no meu face) e Eliana Colombini (acho que ela saiu do face).

segunda-feira, 21 de abril de 2014

Abaixo a Gordofobia!

Gordo é gordo. Não é forte, gordinho, fofinho, grande, cheinho...

Ser gordo em tempos de anorexia é muito difícil. Algumas meninas encarceram-se em um mundo particular, onde elas estão protegidas de todo tipo de ataque ou discriminação. Trancam-se em uma vida cinza, vestem roupas feias, têm vergonha de se maquiar, usar bijuterias, comprar um sapato bacana ou uma bolsa bonita. Ouvi muitas dizerem: “Pra quê? Ninguém olha pra mim mesmo”. Ou “Por que vou comprar um lingerie bonito? Ninguém vai ver!” “Ah, não vou usar esse colar. Já sou enorme, vou chamar muito a atenção”. Ora, eu compro pra mim, me visto pra mim, me maquio pra mim... Adoro bijuterias grandes, extravagantes como eu! Sou a gorda mais perua que conheço! 

Ao longo dos meus 48 anos, a maioria deles com sobrepeso, eu ouvi todo tipo de histórias. Desde as mais tristes e cruéis às mais alegres e, sem algum trocadilho, leves. Definitivamente quem precisa perder peso é o preconceito e a ignorância.

O que mais ouvi, e ainda ouço, foi: “Você é tão linda, precisa emagrecer, não pela estética, mas pela sua saúde”. Será mesmo? Saúde? Não sei, meu último check-up declarou que minhas taxas estão todas normais. Sem triglicérides, colesterol ou glicemia alta.

Até que ponto a minha obesidade incomoda o outro? Eu sinto que as pessoas ficam embaraçadas ao me verem de maiô, por exemplo. Eu não me incomodo, mas elas se incomodam... Eu nem me lembro das minhas estrias e celulites. Elas só incomodam aos outros.

Leo Jaime escreveu um texto brilhante intitulado "Gordo é o novo preto" que fala sobre essa falsa preocupação com o gordo. Conforme ele diz em seu post: “O título deste artigo se refere a um movimento americano, “Fat is the new black”. Repare que a tradução não é “o novo negro” mas sim “o novo preto”. É uma expressão do mundo da moda: o novo preto é aquilo que parece ser a óbvia boa escolha; o que não tem erro: o pretinho básico. Ainda que seja óbvia a sugestão de que gordos são, para muitos, “the nigger of the world”, o que o tal manifesto combate ferozmente”.

O mundo não foi feito para os gordos. As cadeiras estão cada vez menores e os restaurantes insistem em colocar aquelas morféticas cadeiras de plástico. Quando não são de plástico são com braço. Parece que fazem de propósito, para os maiores (não só em peso, mas também em tamanho) fiquem alertas para seu lugar no mundo: Fora do alcance dos olhos dos que estão up to date!

Os donos de lanchonete e restaurantes são incapazes de pensar em uma simples coisa chamada "cliente que dá lucro". O gordo come. Ele dá lucro e se o lugar for bom ele leva mais gente!


Veja o caso do Snack do Mercado Pão de Açúcar da Av. Epitácio Pessoa. O mercado é 24 horas e possui um café. Um local que deveria ser confortável e amistoso. Só que não. As cadeiras são horríveis e eu não caibo nelas. Sem contar que são de péssima qualidade e já derrubaram 5 pessoas! Esse é o tal lugar de gente feliz??? 


O avião é um pesadelo. Além de ter que pedir extensor do cinto de segurança, tenho que torcer pro vôo não estar lotado e eu poder pegar uma cadeira livre do meu lado, já que não caibo com o braço da poltrona abaixado e minha bunda invade a cadeira vizinha. O cinto de segurança da maioria dos carros também não me serve e se eu não coloco sou multada! Como fazer? Ficar em casa presa?

Andar de ônibus? Não dá! Eu não passo naquela roleta minúscula e estreita. A maioria dos motoristas não tem paciência pra deixar entrar pela porta traseira. Também eu não caberia no assento. De qualquer forma, parar o ônibus e pedir pro motorista deixar entrar pela porta traseira já é um constrangimento para a maioria. Eu só ando de táxi e esse é um dos motivos.

Já as catracas do metrô são mais confortáveis e não deixam a gente constrangido.

Comer em público parece um calvário, afinal, se vêem uma gorda comendo logo dizem: “Tá vendo, por isso é gorda desse jeito”. Claro que se a magra come também dizem que é magra de ruindade, mas a incidência é bem menor. As pessoas gostam mesmo é de sentar em cima do próprio rabo e falar do rabo do outro, como dizia minha mãe. É muito mais fácil criticar o outro e não reparar em suas próprias deficiências.

Teatros e cinemas têm cadeiras para obesos. São poucas, mas tem. Aqui em Santos o teatro Municipal e o teatro Coliseu têm. São confortáveis e eu caibo direitinho. E olha que sou uma gorda G3! Os cinemas da rede Cinemark também têm.

Uma única vez fui tratada decentemente em uma casa de espetáculos. Foi no já falecido Metropolitan do Rio de Janeiro em um Show "Um Brasileiro" do Ney Matogrosso. Cheguei ao show e a cadeira era a morfética com braços. Chamei o garçom que prontamente me trouxe uma cadeira idêntica às demais só que mais larga. Uma mostra de respeito com o cliente em não colocar uma cadeira diferente pra deixá-lo constrangido. 

No Teatro Paulo Autran Sesc Pinheiros, tem esta poltrona para obeso. A distância entre braços é maior que o assento comum. Duas “abas” laterais fixas ampliam a largura do assento. O encosto é da mesma largura que o assento comum. Mais uma mostra de respeito com os obesos. Todos poderiam seguir o mesmo exemplo, né? Não só teatros, mas restaurantes, aeroportos, aviões, ônibus, cafés, etc.

Em outra postagem falei de academias em Santos, porque além de gorda eu possuo uma dificuldade de locomoção por conta de um acidente. A escadinha da piscina é um terror, mas existem academias com rampa ou elevador na piscina.

Aliás, esta dificuldade de locomoção e minha obesidade me renderam outro post que obteve mais de 12 mil visualizações, em que contei que há alguns anos fui barrada no Programa Altas Horas por estar usando uma bengala. Outra hora conto esta história mórbida.

Outra vez, antes de sofrer o tal acidente que mencionei, eu fui a uma entrevista de emprego e fui barrada. Sou professora e a diretora que me entrevistava perguntou se eu conseguia ficar em pé pra dar aula, por causa do meu peso. Nem vou dizer aqui tudo que respondi àquela infeliz, mas coloquei-a em seu lugar...

Outra pessoa digna de ser citada aqui é a Karina Williams. Ela é dona da marca Anna Joana que faz pijamas e camisolas tamanho grande. A marca, Anna Joana, faz peças maravilhosas, divertidas, joviais. Eu sou absolutamente suspeita pra falar algo, pois eu tenho todas as camisolas e pijamas da coleção passada. Tenho por hábito trocar todas as noites, pois, como trabalho em casa, fico durante o dia muito confortável com meus pijamas que passam, tranquilamente, por um conjunto de short e camiseta.

Nos lançamentos da Anna Joana sempre têm meninas lindas, gordas com carinha saudável e olhinhos brilhantes, bem maquiadas, arrumadas, transadíssimas! Todas animadas com uma perspectiva de vida após a obesidade...

A modelo Plus Size Tara Lynn (esquerda) mostrou suas curvas generosas em um ensaio pra lá de sensual para uma edição da revista Elle francesa. Com muito charme e estilo, Tara abrilhanta, com seu manequim 48, mais de 20 páginas do editorial da revista de moda, usando grifes como Tommy Hilfiger, Hermès e Channel. Foto: Revista Elle

Há ainda agências que têm modelos Plus Size, como é o caso da WorldModel que iniciou suas atividades no Brasil em 2008, trazendo para o País sua bagagem no conceito de desfiles coreografados e o primeiro casting de modelos plus size. Site Agência: www.worldmodel.com.br

Em 2011 houve, em Piracicaba, um evento chamado “Beleza não tem tamanho e não tem idade”. O evento fez a diferença para as mulheres com mais peso e mais idade: a modelo Raquel Correa (acima), hoje com 26 anos, gritou ao mundo que tem orgulho de suas formas! Já fez todo tipo de loucura, tomou remédios, mas hoje está tranquila amando muito e sendo amada. Fonte: Site Fatshion

Apesar do estilista inglês Julien MacDonald, jurado do programa Britan’s Next Top Model, ter revelado em 2010 que as modelos Plus Size são uma piada, as gordas estão conquistando, literalmente, seu lugar ao sol. Nós temos tamanho, precisamos de voz pra gritar ao mundo que nós não somos as “anormais”, somos apenas “diferentes” dos padrões preestabelecidos pela mídia.

Nós gordos temos que acabar com o preconceito antes de todos pra que os outros também não o tenham em relação a nós...

Afinal, não é feio ser gordo. Eu, por exemplo, me amo e me acho linda!

Cuidar sempre da saúde é importante e não estou aqui para fazer uma apologia a favor da obesidade. Só não gosto como as pessoas encaram o gordo como um "sem vergonha" que não emagrece porque não quer emagrecer. Isso não é verdade. Há anos que a obesidade já foi reconhecida pela medicina como uma doença e enquanto as pessoas se cuidam, devem ser tratadas com o devido respeito.

É por isso que eu luto!

É isso aí! 

Ilustrações 1, 2 e 14 do Edull